segunda-feira, 30 de novembro de 2009

BRINCAR - PRAZER E NECESSIDADE - Alondra Molina



Brincar é a atividade mais espontânea e natural das crianças, é extremamente prazerosa para elas e muito mais importante para seu desenvolvimento físico, mental e emocional do que pode parecer à primeira vista. Impedir os “pequenos” de realizar tal atividade, como ocorre com quem é transformado em um mini-adulto, de tantos compromissos que tem, pode trazer prejuízos a sua saúde psíquica.
O brinquedo possibilita às crianças converterem as experiências que suportam passivamente em um desempenho ativo, transformando a dor em prazer. O brinquedo também ajuda a superarem seus medos, principalmente, dos perigos internos, resultantes de suas fantasias. Através dos jogos, podem transformar perigos internos e externos e perceber que podem vencê-los. Brincar é um meio que possibilita a expressão da agressividade, de forma tranquila e segura, em geral, aceita e faz com que a criança se sinta menos culpada do que se expressasse para alguém.
As crianças brincam para dominar suas angústias, é um meio de expressão de fantasias, desejos e experiências. Brincar é prova evidente e constante de sua capacidade criadora. Crianças de diferentes idades buscam brinquedos diferentes, os quais parecem atender suas necessidades em cada faixa etária.
Ao final do primeiro trimestre, inicia a atividade lúdica da criança, quando os objetos começam a funcionar como símbolos e quando ocorrem as mudanças na mente e no corpo do bebê. A criança adquire uma melhor coordenação de movimentos e a possibilidade de sentar muda sua relação com os objetos. O primeiro jogo é o de esconder, que se manterá por toda a infância, é como se perdesse o mundo e o recuperasse. O pai já foi incluído e a relação com a mãe não é mais exclusiva, como ela supunha. Ocorre angústia e sofrimento, daí brinca tentando superar ou elaborar.
O primeiro brinquedo é o chocalho, que produz sons que aparecem e desaparecem, como instrumentos primitivos. A criança usa seus movimentos, atira os brinquedos no chão, fazendo sons. A tentativa é de perder o medo, precisa sentir que pode perder ou recuperar o que ama.
Entre 4 e 6 meses a angústia é a de perda, que culmina com o desmame. Ao jogar seu brinquedo no chão, começa a chorar e, muitas vezes, não basta devolvê-lo. Ela precisa da mãe de fato, para sentir que não a perdeu. A presença do pai se torna muito importante e, assim, se estabelece a relação mãe-pai-filho, que é a base das futuras relações do indivíduo com o mundo.
A criança pode eleger algum brinquedo ou um objeto como especial, o qual costuma até ter um nome e tem um significado afetivo importante – são os objetos transicionais, que a ajudam a aliviar suas angústias. Favorecem a transição do que poderia ser apenas interno, para o externo. Desde que não seja exclusivo e que vá ampliando seus interesses, é algo saudável.
Na segunda metade do primeiro ano, os bebês percebem que algo oco pode ser penetrado por algo penetrante. Aí tentam colocar os objetos na boca, nos olhos dos outros, tudo que sirva para por e tirar, unir e separar. Simbolicamente, parece que intuem a forma adulta de expressar amor: entrar em alguém e receber alguém dentro de si. Ocorre tanto em meninos como em meninas mas, perto do primeiro ano, é mais comum os meninos brincarem penetrando e as meninas depositam objetos em algo oco. Nessa fase, a criança, a princípio engatinhando e, depois, se pondo de pé e iniciando a marcha, pode buscar e deixar os brinquedos que lhe interessa.
Perto de 1 ano, surge o TAMBOR, o que tem relação com a fecundidade, é meio de comunicação e serve como descarga de suas tendências agressivas. No final do primeiro ano, se ligará à BOLA, que pode representar o corpo de sua mãe e o seu filho. Bonecos e animais são tratados como filhos, objetos de seus sentimentos de amor e ódio. É o início de aprendizagem da maternidade e da paternidade. Alimentam seus animais e bonecos, usando pratos, xícaras, copos e colheres. Passam substâncias de um recipiente a outro, o que pode indicar que está preparada para o treino de “toillete”, podendo ficar sem as fraldas.
A partir dos 3 anos, há interesse pelos carros e trenzinhos. Emocionalmente, estão aprendendo o que é ser homem e mulher e desenvolvendo a identidade sexual. Brincam com garagens, túneis e pontes, relacionados à penetração, à conquista. O brinquedo com bonecas e animais permanece, se amplia e se diversifica. A criança valoriza algum lugar, como uma caixa ou baú, onde possa guardar seus brinquedos. Interessa-se pela limpeza e pela ordem e gosta de perceber que as coisas podem ser repostas e consertadas, o que tem a ver com a luta contra as tendências destrutivas. Os livros de estórias lhe interessam bastante e os desenhos animados também, bem como a expressão nos seus desenhos. Brincam de médico, papai-e-mamãe, etc.
Entre 5 e 7 anos, os meninos gostam de brincar de luta, super-heróis e as meninas de boneca, casinha, gostam de colocar roupas e enfeites da mãe. Há maior diferenciação entre os sexos e preferem brincar entre seus iguais. Letras e números se transformam em brinquedo, o que é importante para que a motive para a aprendizagem.
Dos 7 em diante, surgem jogos onde se combinam as capacidades intelectuais e a sorte. A criança aprende a competir e a dividir, precisa aprender a admitir a vitória e o lugar do outro, numa luta de adaptação e conquista.
A partir dos 10 ou 11 anos, meninos e meninas formam grupos do mesmo sexo porque precisam se conhecer e aprender as funções do seu sexo. Aos poucos, as experiências amorosas substituirão os jogos com os brinquedos.
Vejam só que importância tem o ato de brincar e como é revelador de saúde psíquica, além da física e, também, espiritual. Lembremos um pouco da criança que fomos e deixemos que venha à tona aquela espontaneidade, tão livre e cheia de entrega...vamos buscá-la... E aí, vamos brincar um pouco?

Um beijo caloroso no coração de todos!

Nenhum comentário:

Postar um comentário